sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Auto Retrato

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo, mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinha"| Antônio Bivar

Quem me define
Ouvir| Feita ma Bahia – Maria Bethânia




Diário de Leitura
Livro: A conquista da felicidade 
Autor: Bertrand Russell 
Capitulo: 1 - O que torna as pessoas infelizes



1º Leitura | 31/10/15
O pouco para quem é muito...
Ouvir| Raul Seixas/ Ouro de Tolo





Quando eu comecei a ler este capitulo, me interroguei várias vezes sobre o que é felicidade e infelicidade, na incessante busca de saber o que desencadeia a infelicidade e felicidade nos seres humanos; se a felicidade faz parte do cotidiano ou apenas de algumas horas do cotidiano; as pessoas são felizes e as escolhas infelizes?. Por exemplo; a vida pode ser infeliz, pois ela não segue uma condição sonhada por muitos, família tradicional, saúde, dinheiro, casa própria etc. Mas mesmo assim sou feliz porque tenho a oportunidade em vida de conquistar ainda que para muitos seja tardia esta condição de felicidade almejada.

Guimarães Rosa disse uma vez que “Felicidade se acha é em horinhas de descuido” então quando estamos “descuidados” a infelicidade se faz presente? Talvez sim ou não, como é citado neste capitulo a arte de “ler fisionomias”, nos torna empáticos ou muitas vezes iludidos, pois o que parece ser não é, desta arte cênica de atuarmos dia a dia nos tornamos felizes para uns, infelizes para nós ou vice e versa.

O que você faz para ser infeliz?



2º Leitura | 03/11/15
“Minha Pobreza”

Assistir| Maria's interview - BRAZIL - #HUMAN

Ouvir| Diferenças / Rael da Rima





Reflito com o autor que talvez SIM, a infelicidade tenha sua gênese no sistema social. Partindo dos estudos de grandes sociólogos como Durkheim, Weber e Marx, sobre o coletivo e igualdade entre classes, penso que a infelicidade tenha sua base material retirada deste momento da história. Com isto, é fácil entender que as diferenças sociais ativam a infelicidade anexada à inveja em qualquer ser humano, porém, as condições psicológicas da infelicidade são muito mais incisivas do que a material, pois ela nos cobra 24h. Nossa mente trabalha dia e noite, incessantemente, aliviando e cobrando os nossos impulsos, medos e vontades.
Têm um ditado do escritor Albert Camus que diz “Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança”, eu parafrasearia este dito como “ Toda a infelicidade dos homens nasce da desesperança”. Desesperança essa que nos faz sentir-nos de mãos atadas e  cômodos a nossa condição.


3º Leitura | 01/11/15
Infelicidade Enrustida
Ouvir| Modinha para Gabriela/ Gal Costa



Não pare na pista, ande, analise, sinta, seja, todos aqueles que você vê passar pela sua vida. Conseguiria ser empáticos a todos estes andantes? Você teria forças o suficiente para aguentar todos esses “eus”, eus com tristezas ocultas, alegrias exarcebadas, frustrações reprimidas, ansiedades enraizadas, foco excessivo, indiferença excêntrica; seria você capaz de perceber este misto de sentimentos no próximo?
Passamos pela vida em busca da nossa felicidade, do nosso prazer, da nossa alegria. Damos total foco aos nossos problemas, porque “eu” não sei lidar, porque “eu” sou infeliz, porque “eu” sou assim meio Gabriela, e esta concentração em si próprio nos faz  sozinhos neste mar de gente, sendo nós mesmo os únicos a sofrerem os horrores deste mundo que vivemos. Esta condição de infelicidade cotidiana está por toda parte, mas o nosso egoísmo não nos deixa perceber o quanto não estamos sozinhos lutando para se desvencilhar desta cruz que carregamos com as dores do mundo. Não somos os únicos infelizes, somos muitos entre tantos.
                                                                                                               



4º Leitura | 06/11/15
“Ser ou não ser... eis a questão”
Ouvir| Máscara / Pitty



Ao ler este livro foi muito difícil desvincular a infelicidade das comparações. A todo o momento estamos nos comparando com algo ou alguém. Sempre procuramos nos igualar a algo ou alguém. Hoje vivemos para mostrar o que somos o que temos o que teremos e como iremos ter. Com esta marcha globalizada para ao qual caminhamos, é possível confirmar nossas comparações e competições frente ao outro.
A ilusão tomou posse dos nossos propósitos, o que era pra ser lazer tornou-se exibicionismo, o que era pra ser conquista tornou-se competições de egos, o que era pra ser mérito, tornou-se nada mais que um narcisismo intelectual. “A realidade é que precisamos ser “isto” ou” aquilo” para nos mantermos em uma roda de amigos, para mostrarmos as possibilidades de convivência, suportando as mentiras e contradições dos nosso eu, frente ao que poderíamos ser e não somos.

A aceitação é a infelicidade dos egos maus resolvidos.

  

5º Leitura | 02/11/15
“Controlando a minha maluquez, misturada com a minha lucidez”
Ouvir| Maluco Beleza/ Raul Seixas



Para todos lucidez, para mim maluquez. A todo o momento testamos o nosso equilíbrio, medimos as nossas forças e sentimentos em um duelo homérico; a todo o momento nos mostramos como fortes e capazes, desfilamos nossa felicidade... Ah, é claro precisamos mostrar para as pessoas que somos felizes, precisamos mostrar a nossa condição limitada de ser e estar; precisamos nos SENTIR, pertencer a uma classe. A classe dos infelizes que precisam a todo momentos se ajustar ao mundo para serem o que os outros querem.
Lutam, trabalham, amam, para quem? Si próprio ou para os outros? Basta um gole para esta carcaça lúcida se desfazer em exagerados gestos de angústias e mágoas mal resolvidas. Basta o segundo gole para se reconhecer impotente diante de suas fraquezas. Basta o terceiro gole pata termos a certeza de que o muito é pouco.



6º Leitura | 07/11/15
“Não sou nada. Nunca serei nada, não posso querer ser nada.” Álvaro de Campos
Ouvir| Adeus Paulistinha – Tonico e Tinoco



As nossas escolhas estão diretamente ligadas a nossa felicidade ou infelicidade. O peso do certo ou errado tem grande influência no que nos tornamos quando adultos. Eu sempre busquei a minha felicidade, mesmo me sentindo em alguns poucos momentos da vida infeliz. Sempre achei que a infelicidade estava associada à falta de fé e esperança que depositamos nas atitudes ou pessoas. Com o passar dos tempos fui aprendendo que “somos aquilo” que nossa mente perseverou. Então o que os outros acham ou querem pra nossas vidas são vontades somente deles, eu decido o que fazer com cada opinião dada. Às vezes é dado muito valor ao que a sociedade exige, e acabamos perdendo os nossos critérios e sonhos por imposições, que nada contribuem com a nossa felicidade. Por isso é tão fácil encontrarmos pessoas infelizes nos casamentos, trabalho, família etc, pois o que os outros acham ou impõe tem mais valor que os seus próprios valores.



7º Leitura | 08/11/15
Permita-se!
Ouvir| Casa no Campo – Elis Regina



Hoje a leitura me lembrou de como é bom ser simples, de como é bom simplificar pessoas e de ser indiferente ao peso do certo ou errado. Nascemos sendo apontados pelos nossos pais, depois amigos, chefes e todos aqueles que permitimos. Isso é pra você, isto não é, você tem que falar assim, se vestir assim, andar assim, fazer isso, colocar isto, comer aquilo, ficar com ele, trabalhar ali, sentar aqui... Isso, isso, isso... É tedioso ter que viver respeitando os padrões impostos no mundo, pra você não ser julgada e massacrada por mil opiniões. A infelicidade se esconde nessas determinações. As pessoas precisam aprender que todos tem um espaço no mundo e, com certeza elas irão se encontrar e desenvolver suas habilidades de acordo com o seu EU interior.
Ser privado de ser quem realmente é-nos torna refém de um valor excessivo do qual nunca será saciado. Iremos passar a vida querendo satisfazer um vazio que já passou a época. A emoção, expectativa e vibração já não as mesmas que você iria viver se alguém não tivesse reprimido.

Permitir-se e aceitar os desígnios torna a caminhada mais leve e feliz!



8º Leitura | 14/11/15
SER!
Ler| Felicidade Realista – Martha Medeiros

Eu li, palpitei, me contradiz, fiz a última leitura e lembrei-me de um texto da Martha Medeiros que fecha este capítulo, dizendo e contrapondo o tema:

De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par, e não como ímpares? Ter um parceiro constante não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo às expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com três parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.


Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

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