O que
está por trás do “Tchau Querida!”
Angela Panseri, Cássio Umbelino e Cláudia
Andrade – UNIP
Resumo: Este artigo se intenta em analisar o jargão
“Tchau Querida” usado nas manifestações políticas a favor do impeachment da
Presidente Dilma Rousseff. Trata-se de uma análise objetiva de modo a descrever
a representatividade e abrangência de uma fala, dentro do gênero capa de revista.
Dessa maneira usamos da perspectiva teórica da Análise do Discurso (AD) de
linha Francesa, para abarcar a influência desta fala no contexto midiático e
digital.
Palavras
chave: Tchau Querida; Dilma;
Política; Impeachment; Manifestações; Discurso.
Abstract: This article attempts to analyze the jargon "Bye Baby " used in political demonstrations in favor of impeachment of President Dilma . It is an objective analysis to describe the representation and coverage of a speech within the genre magazine cover. In this way we use the theoretical perspective of discourse analysis (AD ) of the French line , to encompass the influence of speech in the media and digital context.
Keywords: Bye Baby ; Dilma
; Policy; impeachment ; Manifestations; Speech.
INTRODUÇÃO
Este artigo analisa o gênero capa de revista
que trás como chamada a finalização de uma conversa de cunho político
ideológico, do qual serviu de base para a análise deste corpus de pesquisa.
Nosso objetivo é descrever o percurso
narrativo de sentido do título e sua repercussão no campo midiático, bem como a
configuração desta linguagem na sociedade e nas práticas discursivas.
A Revista Veja da Editora Abril, segundo o
IVC ( Instituto Verificador de Circulação), é a revista brasileira com maior
tiragem (1.217.882 exemplares), segundo sua tabela de circulação geral de abril
/2012. Ao coordenar sua linha editorial
a revista se posiciona muitas vezes como conservadora e de direita, que a faz
alvo de criticas por alguns setores e personalidades da sociedade contrárias a
sua posição.
Os recursos metodológicos usados para
analisar a frase “Tchau Querida”, foi baseado nos fundamentos da Análise do
Discurso (AD) de linha francesa bem como suas categorias analíticas de
condições de produção, na investigação do contexto sócio-histórico;
interdiscursivo; apagamentos e formações discursivas e ideológicas presentes na
construção do gênero analisado. Alguns autores desta linha de pensamento como
Eni Puccineli Orlandi (2008), José Luiz Fiorin (1998) e Helena Nagamine Brandão
(2004), permearam esta análise e guiaram este trabalho com seus fundamentos.
Nesta perspectiva o trabalho divide-se em
quatro partes. Na primeira contextualizamos a conversa e a repercussão da fala
do gênero revista; na segunda abordamos conceitos básicos das condições de
produção da AD; terceiro analisamos as perspectiva relevantes dentro da AD e a
aplicabilidade no corpus (capa) e, por fim as considerações finais.
A
CONCEPÇÃO IDEOLÓGICA LIGADA A REPERCUSSÃO SOCIAL
Nos últimos meses o Brasil tem vivido grandes
turbulências políticas, envolvendo casos de corrupções, crise econômica e um
processo de grandes investigações judiciais. De acordo com as investigações
conduzidas pelo Juiz Sérgio Moro e uma equipe de procuradores e policiais
federais, foi descoberto um esquema de corrupção (Lava Jato), reunindo um
conjunto de provas com indícios de irregularidades ligados ao governo da
Presidente Dilma Rousseff, que têm como seu aliado o ex-presidente e sindicalista
Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com as investigações as informações
levantadas mostraram que o esquema de corrupção atendia aos interesses pessoais
e de alguns políticos, do qual o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (PMDB - RJ) é suspeito de participação deste processo.
Como aliados, Dilma Rousseff e Luiz Inácio
Lula da Silva começaram a buscar
soluções que impedisse uma possível prisão de Lula. Para tanto, Dilma
esquematiza uma nomeação ao Lula como Ministro Chefe da Casa Civil, do qual
permitia foro privilegiado, sem a intervenção de Juiz federal.
Porém como parte das investigações o juiz Sérgio Moro quebrou o sigilo das interceptações telefônicas do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As conversas gravadas pela Polícia Federal incluem com
a presidente Dilma Rousseff, um
diálogo que rendeu grande repercussão
nas mídias impressas e digitais, sendo parte desta conversa o nosso foco
de análise.
Conversa com Dilma
Dilma: "Alô."
Lula: "Alô."
Dilma: "Lula, deixa eu te falar uma coisa."
Lula: "Fala, querida. Ahn?"
Dilma: "Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!"
Lula: "Uhum. Tá bom, tá bom."
Dilma: "Só isso, você espera aí que ele tá indo aí."
Lula: "Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando."
Dilma: "Tá?!"
Lula: "Tá bom."
Dilma: "Tchau."
Lula: "Tchau, querida."
Lula: "Alô."
Dilma: "Lula, deixa eu te falar uma coisa."
Lula: "Fala, querida. Ahn?"
Dilma: "Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!"
Lula: "Uhum. Tá bom, tá bom."
Dilma: "Só isso, você espera aí que ele tá indo aí."
Lula: "Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando."
Dilma: "Tá?!"
Lula: "Tá bom."
Dilma: "Tchau."
Lula: "Tchau, querida."
REVENDO A PERSPECTIVA TEÓRICA
Ensina Fiorin:
O
discurso são as combinações de elementos linguísticos (frases ou conjuntos
constituídos de muitas frases), usadas pelos falantes com o propósito de
exprimir seus pensamentos, de falar do mundo exterior ou de seu mundo interior,
de agir sobre o mundo. A fala é a exteriorização psicofísico-fisiológica do discurso.
Ela é rigorosamente individual, pois sempre um eu que toma a palavra e realiza
o ato de exteriorizar o discurso. (FIORIN, 2005, p. 11)
Sabemos que os partidos políticos são grandes armas
ideológicas na constituição de um pensamento e posicionamento frente à
sociedade. Mais do que falar é de extrema importância identificar a formação
discursiva que orienta o jogo de fala no discurso. A frase “Tchau Querida” soou
como uma proximidade de um elo político cercado de valores, e práticas
ideologicamente já determinados pelo envolvimento interdiscursivo, perceptível
na relação ativa de identidade, e subordinação de sujeitos intercambiáveis.
Quando analisamos esta abordagem na capa, percebemos os
efeitos ideológicos, numa enunciação influenciável e articulada num conjunto de
pressupostos já identificados na posição que a revista se coloca, neste caso a
questão de direita política. Portanto para aqueles que já conhecem a estrutura do
conteúdo da revista identificará os apagamentos e suas retomadas nos assuntos
já estruturados em edições anteriores de forma inconsciente.
Sendo a linguagem um lugar de conflito dentro da
sociedade uma vez que se constitui em um contexto histórico social, ela passa a
não ser neutra, inocente e natural, e sim, princípio privilegiado para a
influência e manifestação ideológica. Segundo Bakhtin a relação discursiva se
dá em contato com o outro, numa relação que articula a parte linguística com o
social. Neste caso, encontramos na Polissemia, terreno fértil para explanar a
frase em análise.
Dentro da Polissemia uma palavra ou frase adquiri novos
sentidos, além do seu original, por isso no campo digital a frase “Tchau
Querida”, tornou-se alvo de desaprovação para qualquer fato contrário a sua
posição. Como a mídia digital tem grande influência na proliferação das
informações, a frase se tornou em poucas horas o assunto mais comentado,
ficando entre os Trending Topics no Twitter. Esta “caracterização” da ideologia
é um forte instrumento de dominação de classes, pois faz com que estas ideias e
jargões passem a ser ideias de todos, do que devem pensar, como devem pensar, o
que devem valorizar, o que devem sentir, o que devem e como devem fazer, fato
este que explica a força da população nas movimentações políticas sociais,
materializando estes atos em caráter moldador das ações humanas.
Figura
1: Revista Veja, edição de 11 de Maio de 2016
O
DESVELAMENTO NA ANÁLISE DO DISCURSO
O processo de interpelação criado pela
revista, induz a uma veracidade dos fatos, quando foi abordado com ênfase o
jargão “Tchau Querida” primeiramente como protesto da insatisfação do atual
governo, e segundo pelo seu desejo de
uma solução efetiva no que tange a corrupção alastrada pelo país, ou seja,
“Tchau Governo”. A formação discursiva regula intrinsecamente a relação de
conflito, visto que quando observamos o título da revista, podemos obsevar que
a cor vermelha pode ser visto como algo a ser chamado a atenção ou até mesmo
como uma provocação ao Partido dos
Trabalhadores (PT) que tem esta cor como bandeira, símbolo de sangue vertido numa luta histórica, que nesta capa pode representar a derrota
do seu mandato.
O fundo preto pode remeter a
um apagamento histórico de luta confrontada hoje com sua decadência, dando uma
alusão ao “fundo do poço”. Podemos pensar também que neste caso a cor preta,
simbolize para a própria Revista um período de luto pela situação do qual se
encontra.
No topo da página temos a
imagem do presidente Lula bem como a chamada “Lula no TOPO DA CADEIA” e logo
abaixo Dilma e Cunha. Esse triângulo sugere Lula como comandante do processo de
corrupção e os dois subordinados Dilma e Cunha como seguidores e apoiadores
deste retrocesso político e sujeira nacional.
O jogo assimétrico
hierarquicamente presente na imagem de perfil da Dilma e Cunha, pode
representar os dois lados da moeda, uma máscara que ambos utilizam num ato de
dualidade de caráter e “honestidade”.
Pêcheux (1975) postula que
as formações imaginárias resultam dos processos discursivos anteriores,
manifestados nas relações de sentido “na antecipação, o emissor projeta uma
representação imaginária do receptor e, a partir dela estabelece suas
estratégias discursivas. O que ocorre é um jogo de imagens: dos sujeitos entre
si, dos sujeitos com os lugares que ocupam na formação social e dos discursos
já ditos com os possíveis e imaginados”. Pensamento este que explica o
semblante sério, indicando uma
preocupação dos caminhos a serem tomados e a reputação dentro de uma sociedade
democraticamente ativa. Uma questão curiosa seria os cabelos dos dois
políticos, que se encontram até se tornarem insinuando uma ligação política de
cooperação e união no que tange as tomadas de decisões no âmbito da corrupção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nossa intenção foi analisar o jargão Tchau
Querida!, de acordo com os critérios estabelecidos na introdução e na
fundamentação teórica, utilizando destes recursos a nossa colocação diante do
gênero estudado. Durante nossas análises, percebemos a forte influência do
conteúdo na posição política dos leitores da revista, bem como sua propagação
nos meios digitais. Os artifícios utilizados condizem com as imagens projetas
equivalentes aos textos e títulos escolhidos, como forma de sustentação da
veracidade da noticia veiculada.
Percebemos que a Revista Veja é carregada de
discursos subjetivos e ideologia. Não cabe a nós julgarmos esta visão parcial
que a revista oferece, porém é visível a sua posição partidária e o confronto
político que há com o partido de esquerda.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São
Paulo, Editota Ática, 1998.
ORLANDI, Eni. P. Método/História. In Discurso
e Leitura. São Paulo, Cortez, 2007.
BRANDÂO, H.N. Introdução à análise do
discurso. 2ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004.
Digital
Globo:
http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/03/pf-libera-documento-que-mostra-ligacao-entre-lula-e-dilma.html
O artigo ficou muito bom, parabéns! Lembrem-se de colocar a vírgula antes do vocativo."Tchau, querida".
ResponderExcluirEu diria, "Volta, querida". bjs